segunda-feira, 19 de maio de 2014

Cartomancia x espiritualidade x charlatanismo

        Ao pensar ainda sobre o início de um blog a respeito de cartomancia - em especial o Petit Lenormand, há algo que não me sai da cabeça: a conexão entre cartomancia e espiritualidade, principalmente onde vivemos, no Brasil.
        Você já percebeu como esses dois temas, por aqui, parecem estar sempre interligados? Tanto, que o Petit Lenormand acabou "virando" o "Baralho Cigano", e a maioria das pessoas com quem converso, e pouco conhecem sobre o tema, acreditam que para ler a sorte com o Petit Lenormand é necessário passar por algum tipo de iniciação "espiritual", fazer parte de um culto (geralmente afro-brasileiro), e "trabalhar" com uma Cigana espiritual.
         Estes conceitos estão tão intimamente ligados à cartomancia brasileira, que é bem comum, ao sentar diante de mim, o consulente me pergunte quem é a "minha" Cigana. Por algum tempo esta pergunta me incomodava muito, confesso. Não que eu não reconheça a presença da Egrégora Cigana, ou que menospreze de qualquer maneira os guias espirituais e seu trabalho. Pelo contrário, como espiritualista universalista, aceito, admiro, aprecio muitas práticas religiosas, de todo tipo. O que realmente incomoda é a maneira como isso é contextualizado, e a maneira como o termo "cartomante" acaba sendo diminuído, até tornar-se pejorativo, em função de práticas pouco éticas ou louváveis de alguns, sob a bandeira do "espiritualismo".
         É preciso separar os grãos. Em princípio, o Petit Lenormand, que nasceu dentro de uma cultura predominantemente católica, e em um período da história em que era comum a existência de sociedades secretas de estudiosos e praticantes de Magia, não tem nenhum vínculo com nenhum culto ou filosofia religiosa, de nenhum tipo. Não está ligado ao ocultismo, esoterismo, nem tampouco aos cultos afro-brasileiros.
Você pode decidir ser um cartomante - e educar-se para ser um dos bons, sem que nem ao menos acredite em Deus, na Divindade, seja ela de qualquer tipo, ou na presença de espíritos. E as cartas vão mostrar a sorte dos seus consulentes com a mesma eficiência.

        Perceba que todas as correntes filosóficas espiritualistas, dos mais diferentes pontos do planeta, de diferentes períodos de tempo e em linguagens muitas vezes também distintas, trazem em suas doutrinas ou escrituras o princípio da evolução espiritual associado a algum tipo de estudo e, principalmente, baseados em princípios éticos extremamente definidos. Essas mesmas diferentes correntes, explicam também que, em princípio, atraímos a quem nos afinizamos, ou seja, nos aproximamos e nos ligamos a seres com traços similares aos nossos em padrões vibratórios - e padrões vibratórios podem ser definidos como ondas energéticas geradas por emoções que foram geradas por pensamentos. Desta forma, podemos entender que os guias, mentores, divindades, espíritos de Luz, anjos ou seja qual for o nome que você dê aos seres que auxiliariam no processo de leitura das cartas, vibram em alguma frequência com que precisamos nos afinizar. E se o que nos afiniza com uma ou outra pessoa (encarnada) ou ser (espiritual) é nosso padrão vibratório, este é definido por nossa conduta, ou seja, nosso padrão de comportamento. E a partir desta linha de raciocínio, surge a reflexão: Com o que estamos nos afinizando, em que tipo de frequencia energética temos nos sintonizado?
        Se por um lado, alguém lhe diz que seus guias e mentores (espirituais) o ajudarão no processo de aprendizgem e leitura das cartas, por outro lado, com que tipo de energia você vem se alinhando? Quando falamos em padrões de comportamento que definem frequências, podemos compreender que sentimentos / emoções menores, como ciúmes, possessividade, inveja, mesquinharia, ira, raiva, medo, insegurança e tantos outros, irão nos sintonizar em uma frequencia por onde vibram energias do mesmo padrão. Da música com letra grosseira, ao copo de cerveja "a mais" na festinha do final de semana, do palavrão que foi solto no trânsito caótico à crise de ciúmes que o "amor" causa, tudo é energia em movimento, e tudo nos sintoniza em alguma frequencia.              Nos aprontarmos para "canalizar" mensagens de espíritos de Luz, requer, supõe-se, uma afinização energética com a frequencia destes seres... no mínimo!
E ainda por outro ponto de vista, podemos refletir a respeito do conhecimento necessário pra interpretar corretamente as mensagens trazidas do extrafísico: mesmo que em uma semana estressante e caótica, como muitos passamos, consigamos o devido equilíbrio e nos mantenhamos em total sintonia com a Luz, como se dá a "recepção" das mensagens canalizadas pelos guias? Neste ponto eu me lembro de outro conceito muito interessante, que diz que apenas vemos/ouvimos/sentimos o que conhecemos: não compreendemos o novo se não houverem referências mínimas em nosso arquivo mental, e partindo daí, se o cartomante confia apenas no conhecimento de seus guias e mentores no momento de leitura das cartas, e assumindo que este esteja em total sintonia com a Luz de quem só quer auxiliar e orientar o consulente, que tipo de referências criamos para o devido cumprimento desta tarefa?
         Compreender que o seu universo religioso é completamente diferente do meu, e que o consulente talvez viva em um terceiro universo, é fundamental na hora de esclarecermos que uma coisa não deve se confundir com a outra: cartomancia não é religião, não está conectada a nenhuma religião, nem depende de nenhuma doutrina religiosa pra que seja praticada.
          E quando finalmente separamos uma coisa da outra - isso não quer dizer que você não possa seguir trabalhando com o seu guia - pelo contrário, espero que você estude ainda mais, pra que ele/ela tenha ainda mais recursos na hora de lhe transmitir o recado... mas é somente quando separamos uma coisa da outra, que podemos nos apresentar como Profissionais. Profissionais de valor, que merecem respeito e reconhecimento, e que não só precisam dar duro como todo mundo, como pagam contas como todo mundo.
          Pensar em tudo isso me inspira, e ao mesmo tempo preocupa: você já parou pra pensar em por quê a imagem do cartomante é ainda tão diminuída, menosprezada e até marginalizada, aqui no Brasil? Todo mundo sabe contar uma história de algum cartomante "salafrário"... e assumir a intenção de viver de cartomancia, em algumas famílias, é quase sinônimo de tragédia!
É claro que sempre existirão os charlatães. Mas não é porque existem por aí médicos que praticam a medicina ilegal, que você deixa de ir ao médico, ou deixa de respeitar os médicos que conhece.
         
           Como profissional, você pode acreditar no que quiser... Mas deve oferecer, antes de tudo, excelência ao seu consulente. Dê o seu melhor! Juntos, podemos mudar esse cenário!


segunda-feira, 5 de maio de 2014

O início

                "A Sibila está acima da razão do entendimento comum. Aqui proponho essa objeção não só para cartomantes, mas a todas as pessoas de bem que têm a esperança de conhecer o futuro: das duas uma, ou a série de eventos futuros está irrevogavelmente fixada pelo destino, ou podemos alterar a ordem e natureza dos fatos, de acordo com nossos atos. No primeiro caso, o destino é uma verdadeira fatalidade contra a qual falham a prudência e o gênio dos homens; no segundo caso, o destino só é condicional, porque nossa conduta pode modificá-lo ou transformá-lo completamente."  
                   M. A. Le Normand



               Não sabia por onde começar, então fui logo para o início. Não o meu, mas aqueles que volta e meia ouço pessoas contando. Por que caminhos você chegou até essas cartas? E agora? A incrível perfeição do Universo sempre nos leva até onde precisamos ir, na hora certa, do jeito certo! E algumas vezes é ainda mais incrível, pois ao pisar naquele terreno que parecia tão certo, tão seguro, o desafio se apresenta. E em alguns casos você precisa ´simplesmente` desconstruir para construir de outro jeito. E é assim mesmo.
               O meu "início" com as cartas foi como de muitas outras pessoas, um caminho de dúvidas, pontos de interrogação, surpresas... e por incrível que pareça, 27 anos depois, continua exatamente assim. Ok, tenho menos pontos de interrogação, talvez, mas muitos, muitos pontos de exclamação. Continuo me surpreendendo todos os dias com a precisão das cartas, e com tudo que elas podem revelar, da maneira mais simples, como uma criança contando um acontecimento. Não há um juiz pronto pra inocentar ou condenar, não há um apito avisando que o seu limite de palavras é este. As cartas simplesmente revelam. E estar diante delas, ler as revelações, é um exercício de humildade, antes de tudo, pois é preciso humildade pra manter a imparcialidade diante de todo tipo de situações que se revelam na Mesa, diante de todo tipo de pessoas que se sentam à sua frente.
             A minha professora me falava muito isso, que era preciso estar despida de preconceitos, julgamentos, convenções, pudores e crenças quando diante de alguém, para ler sua sorte. Ela sempre me dizia: "você pode estar lendo sobre algo que vai mudar a vida da pessoa que está diante de você. Não a faça perder tempo com sua surpresa, indignação ou preconceito. Permita que aquela pessoa mergulhe em seu próprio destino com a mesma segurança que ela escolheu confiar a você seus maiores segredos".
            Hoje, ao pensar em um ponto de partida a alguém que quer trabalhar com as cartas, seja pra si mesmo ou para outras pessoas, a primeira coisa que me passa à cabeça é: Você vai iniciar uma grande viagem, uma jornada incrível, e da sua janela poderá contemplar tantas paisagens diferentes, das mais lindas às mais horrendas... prepare-se para manter-se confortável na sua cadeira, e permitir que a paisagem passe pela janela, sem que você interfira.
            Sim! pois você vai sentir vontade de interferir, algumas vezes. Vai querer consertar o que não pode, não deve ou não quer ser consertado. Você vai querer celebrar as descobertas felizes, e gritar ao mundo o amor que as cartas revelaram... vai querer rir das ´bobagens` que escuta, vai sentir vontade de chorar com algumas histórias... e o melhor que tem a fazer, é Ler. Ler as mensagens escritas nas suas cartas e traduzi-las aos seus clientes. Só isso. E é muito, muito...  acredite! Algumas vezes você não vai entender. Mesmo depois de anos... você não vai entender. Apenas reconheça. Muitas vezes você se surpreenderá, e será lindo!
            Preparar-se para embarcar nesta jornada é um exercício diário - tem que ser. Só a prática pode levá-lo ao fim da estrada. Só a prática garante a fluência, e é esta fluência, na linguagem que você escolheu, que vai ajudar a clarear as estradas de tantas outras pessoas.
            Ser cartomante é isso: você lê. Você segura a lâmpada que ilumina - você não é lâmpada, apenas a segura para alguém. Está acima do entendimento, do julgamento, dos conceitos e crenças que você leva na sua própria vida. Você é apenas o locutor da mensagem do seu consulente para ele mesmo - e algumas vezes, ele não vai gostar, não vai gostar nada de ouvir a mensagem. Em outras o brilho nos olhos dele vai iluminar todo o ambiente, e você terminará a consulta com uma alegria quase inexplicável. É assim mesmo.
         
            O início é simplesmente o pequeno vislumbre das grandes mudanças de todas as paisagens que verá, da sua janela, trarão para sua vida.

           E a palavra que define um bom cartomante? Comprometimento. Comprometa-se, antes de tudo, com você mesmo, com a sua jornada. Um passo de cada vez. Uma palavra por vez. E depois uma frase. E da frase uma sentença, da sentença uma história. Converse com as cartas: você só poderá ouvi-las se começar. E depois de ouvi-las, só poderá compreendê-las se praticar. E aqui, neste momento, estamos falando da sua Jornada Lenormand. Vamos juntos, falando "Lenormandês"!  Seja muito bem vindo! Vamos trocar, compartilhar, ensinar e aprender...  vamos praticar, conversar... e finalmente, vamos nos descobrir fluentes, falando Lenormandês, a linguagem do Destino!

Maccaari Fortune Teller 1890s